Capítulo
– 2
A Rua dos Sonhos
Com a partida de Fernanda eu não
sabia oque fazer, mas acabei optando por acompanhar a menina, pois eu estava
ali por ela. Logo que o pai entrou no quarto por estranhar o silêncio, percebeu
que a filha não estava lá, e deu vários gritos em vão que simplesmente ecoou
pela casa, dona Tania, entrou no quarto ao perceber a inquietude do marido a
revirar as coisas da filha, só a avó percebeu a falta do porquinho que não
estava na cabeceira da cama, como de costume. Ao lado da foto de Fernanda e o avô
pescando.
Sem mais delongas foi constatado
que a menina havia fugido, a casa número treze voltou ao pânico.
Enquanto sua casa caia na
desordem total, Fernanda já estava na Av. Principal dos Sonhos, com a mente
cheia de pensamentos ruins, pensou em cometer suicídio, mas cogitou por extinto
que nem depois da morte teria paz.
Ficou andando sem rumo pelas ruas
ate que umas duas horas depois sentiu muita fome, pois tinha saído de casa sem
tomar café, andou até uma pracinha onde encontrou um homem vendendo hot-dog,
comprou um, na sua primeira mordida Fernanda se deparou com um olhar de uma
menina que fitava seu lanche com olhos de desejo. Fernanda com certo receio
comprou mais um lanche e, levou até a menina que estava embaixo de um
salgueiro. A menina não queria aceitar com vergonha, mas logo cedeu. Creio que
a fome falou mais alto. Elas ficaram ali conversando por horas, comeram outro
hot-dog e dividiram um suco de laranja.
Eu fiquei a uma distância só a
observar, pois já conhecia a história da família da aquela menina, eu havia
vindo busca-los há três anos enquanto Ana Luiza dormia em sua cama com seus
oito aninhos. A deixei sob a responsabilidade da avó, mas que logo se cansou da
menina e a expulsou de casa, com certeza eu a castiguei muito e lentamente, por
ter feito tanto sofrimento a uma criança.
Ela havia crescido muito e ainda mantinha um rosto tão infantil, o tempo havia lhe preservado seus traços angelicais de
seus treze anos. Será que essa amizade daria certo, uma menina de olhos cor de
avelã com ódio no coração e a menina de olhos esmeralda com esperança de
reencontrar a felicidade. Isso só o tempo diria...
Com o passar do dia elas
caminharam pela praça, e a noite veio seguindo-as com o passar das horas, logo
já estava noite e a praça foi ficando vazia como o coração das meninas.
Fernanda nunca havia dormido na
rua e não tinha ideia de como funcionava a malandragem das crianças de rua. O
medo foi dominando seu peito ao ponto de deixar as lágrimas tocarem sua face, a
nova amiga em um gesto comovente deu lhe um abraço tão forte e confortante que
Fernanda se lembrou do avô que fazia isso sempre que ela caia ao tentar andar
de bicicleta. Quanta saudade ela sentia daquele tempo que não voltava mais.
Elas optaram por dormir em um
galpão, que segundo Ana não era frequentado a muito tempo, elas foram pra lá
conversando sobre a vida de Ana.