Capítulo
– 8
O palácio
- Podíamos limpar o seu palácio.
- Agora é nosso palácio.
Eu me senti oprimido, pois sabia
que Fernanda e Caleu estavam se apaixonando e eu não podia fazer nada para
impedi-los.
Os dois passaram aquele dia
nublado limpando e conversando. Rindo e brincando.
Eu fiquei a observar os seus
sentimentos se expandido e invadindo cada fresta da casa, cada centímetro do
ambiente. O ser humano se envolve muito fácil, suas emoções são muito fáceis de
manipular, não deve ter lá tanta graça ter um coração.
O dia passou, foram passando
vários dias, todos os dias ela dizia que iria embora, mas, nunca ia, e assim se
passou um mês, eles conviviam um com outro em total harmonia. Caleu saia para
ganhar dinheiro e Fernanda ficava em casa. Eu fiquei lá, encostado no sofá
esburacado, pensando quando aquilo acabaria.
Com dias eles começaram a ter uma
intimidade, que ia além da minha compreensão. Começaram a trocar caricias, beijos, Fernanda começou a se descobrir como mulher e Caleu como homem.
Um dia depois do retorno do
suposto trabalho, ele a beijou e lhe colocou no dedo um anel, lindo embora sua
simplicidade, tinha um toque de amor com uma pitada de carinho que encantaram a
menina. Aquela foi a pior noite da minha vida, eles tiveram sua primeira noite
de amor, eu me recusava a ouvir, nunca me senti tão traído como naquela noite
de lua cheia, as estrelas estavam a favor deles e conspiravam contra mim. Eu
ouvia os sussurros de amor que eram trocados em meio aos lençóis, sentia os
pensamentos de Caleu em tocar os cabelos cacheados de Fernanda, a respiração
ofegante que eles trocavam, suas peles se tocavam como seda. Eu me retirei da casa e fiquei olhando a
favela à noite, pensei nas vezes que tinha frequentado aquelas casas, as
pessoas que já eram minhas conhecidas, algumas me recebiam com muita
hospitalidade outras lutavam contra a minha busca e se recusavam as súplicas a
ir comigo.
Deparei-me com Carla, eu havia
visitado ela há dois anos, mas não pude leva-la comigo, ela estava linda agora,
uma mulata com um corpo violão que mexia com qualquer pensamento de um homem.
Uma das minhas piores buscas foi
no dia que encontrei Carla, sentada ao lado da mãe em um beco da favela, todos
estavam doentes, alguns fugiam para não a adoecer, Carla sabia que o fim da mãe
estava próximo, eu senti pena dela mais a queria comigo, quando ela adormeceu a
admirei, sua pela tinha um cheiro forte que enfeitiçava. Levei sua mãe com todo
carinho e quando depois de muito tempo ela despertou suas lágrimas acordaram a favela. Eu sentia como
meu trabalho magoava as pessoas, era raro a que gostavam de mim, e me
procuravam espontaneamente, normalmente fugiam de mim. Mas no caso de Fernanda
eu sentia um apresso nunca sentido antes, queria possui-la, tela ao meu lado e
poder admirar sua beleza eternamente, não posso alterar os fatos, embora
quisesse, não escolhi esse trabalho, ele que me escolheu.